terça-feira, 1 de abril de 2014

Registro do Congo - musica tradicional do Espírito Santo

Chegava num belíssimo fim de tarde da Vila Regência, na qual estávamos implementando uma fossa ecológica, e pudemos ver uma jóia da cultura tradicional de nosso país, o Congo. Fomos à exposição dos pescadores no Centro ecológico do projeto Tamar, onde vimos um trabalho belíssimo e muito bem feito. Resultado da união de estagiários do Tamar, da prefeitura e da comunidade de pescadores da Vila, mostrando que é possível o diálogo entre as esferas do conhecimento científico, o setor público e os saberes tradicionais. Toda a exposição foi uma festa, com direito a roda de Congo onde as casacas ruíam forte, foi de arrepiar!

Para ouvir os congos registrados em audio acesse o link:



Fossa Ecológica em Regência

Passado o carnaval, o próximo passo era a construção de uma fossa bioséptica em formato de uma bacia de evapotranspiração. Nos reunimos na escola com a diretora Glória e ficou combinado que iríamos transformar o banheiro dos professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Vila Regência em um banheiro ecológico com suporte para os 14 professores no total durante os três turnos ao longo do dia. Tínhamos uma margem de 3 dias para finalizar todo o trabalho com a fossa e fizemos cálculos para construí-la em tamanho superestimado. Corremos atrás de um pedreiro da região e nos indicaram o Jurandir, um pedreiro conhecido por lá.  

No dia seguinte, começamos o trabalho na fossa.  E o Jurandir estava lá, grande mestre, figura única e que botou o Jay e o Eric para ralar. Com ele não tinha mão lisa e fina que durasse! A primeira etapa era abrir um grande buraco. Na primeira tentativa eles acabaram encontrando uma fossa antiga que havia sido desativada há tempos. Então, o jeito era cavar outro buraco, força! No primeiro dia eles ficaram meio empenados, mais depois daí os caras foram tomando uma baita resistência, cavar fossa é muito melhor que academia! No segundo dia era hora de colocar os tijolos e fazer o revestimento interno da fossa, mas depois de paredes levantadas mais uma surpresa. O terreno arenoso era muito instável e acabara por derrubar as paredes levantadas. A solução agora era refazer o trabalho colocando os tijolos deitados para ganharem mais resistência. No terceiro dia precisávamos terminar as paredes e o fundo da fossa, passado isso a obra deveria descansar para a secagem perfeita do revestimento.






Chegava o quarto dia e fomos reparando que nesse tipo de trabalho temos que estar preparados para incidentes e imprevistos que parecem ser comuns, ainda mais quando não se tem relatos de experiências anteriores para o este tipo de terreno. Começamos a montar a estrutura interna que receberia o esgoto, uma pirâmide em tijolo-cimento onde ocorreria toda a fermentação anaeróbica pela ação das bactérias decompositoras presentes no esgoto e que quando acomodadas nessa estrutura eram capazes de digerir a matéria orgânica, ao mesmo tempo em que as elevadas temperaturas alcançadas nesse local esterilizam os microrganismos patogênicos. Terminada a pirâmide começamos o preenchimento da fossa com resto de material de construção “caliça”. Conseguimos doadores que ficaram muito gratos em se livrar daquele “lixo” que aguardava a remoção pela prefeitura. Ao final desse dia ganhamos outro presente, o Joe nos capturou e fomos até o Tamar situado na Reserva Biológica para assistir a abertura de ninhos da tartaruga cabeçuda. Quanta graça! Elas saiam aos montes e se ajustavam perfeitamente àquele cenário magnífico de pôr-do-sol colorido. Chegavam sedentas ao mar, para tomar o primeiro banho de muitos que hão de vir, naturalmente sabiam o caminho melhor a ser seguido.



No quinto dia corremos atrás das mudas para serem plantadas na superfície da bacia e fomos preenchendo a fossa de maneira a formar gradientes de rochas, primeiro a caliça, em seguida particulados menores, areia e por último a terra que receberia a cobertura vegetal. Mais ainda faltava algo muito importante! Precisávamos contar para os alunos e professores o que se passava na escola, que buraco era aquele, como funcionava essa nova proposta de fossa até então desconhecida. Na hora da saída e intervalos os alunos paravam, passavam em rabo de olho, estavam ressabiados. Decidimos que seria importante um grande “aulão” contando melhor do que se tratava aquela situação e como todos poderiam atuar conjuntamente para a boa conservação da fossa.
Nos reunimos no auditório do Centro ecológico do Tamar em três turnos de  maneira a abranger todas as turmas e professores com o “aulão”. Foi um sucesso! A tarde além da apresentação da fossa conseguimos passar para a criançada o vídeo do ehco-doidos sobre a poluição da água, com gargalhadas e participação garantida! À noite, com os mais velhos o ritmo de participação foi mais afinado e de muita curiosidade. Ao final das aulas conversamos sobre o jogo “Do início ao fim do mundo” e distribuímos alguns CDs para que eles continuassem trabalhando as questões ambientais vistas na apresentação da fossa, vídeo e peça teatral realizada durante a primeira temporada em Regência. A diretora inclusive ficou com cópias para instalação do jogo no laboratório de informática de forma que o conteúdo também possa ser trabalhado pelos professores.







Ufa, é chegado o sexto dia, é hora de finalizar o plantio com plantas adequadas, mudas de bananeira e taioba que possuem folhas grandes capazes de transpirar a água do esgoto para o ar. Suas raízes curtas não comprometem a construção, sendo as plantas mais indicadas para esse tipo de trabalho. Também experimentamos uma planta local a “Aninga” comum de zonas alagadas, mas no dia seguinte a plantação o sol excessivo castigou suas folhas tornando-as inviáveis para a bacia de evapotranspiração nesse momento. Descobrimos com essa experiência que em locais tão quentes podemos criar algum tipo de proteção para as mudas nesse primeiro momento, como por exemplo, o sombreamento feito com a palha de guriri. No sétimo dia descansamos. Mentira! Fomos na escola conversar com as merendeiras sobre a construção da composteira que receberá todo o descarte de lixo orgânico da cozinha e que futuramente irá alimentar um jardim e um viveiro florestal que serão construídos na escola. Elas gostaram e toparam colaborar. Começamos a dar essa etapa da missão por realizada, conseguimos trabalhar a educação ambiental, tratar localmente a questão do saneamento básico e proteção do recurso hídrico (estamos às margens da bacia do Rio doce e de um ecossistema marinho singular) e agora daremos inicio ao trabalho de segurança alimentar. A próxima fase está por vir, cenas dos próximos capítulos e temporadas em Vila Regência, aguardem!




Participantes do Núcleo Espírito Santo, uma grande parceria entre Voz da Natureza, Instituto Ecológico Lunar Maria, Projeto Tamar e Instituto Ambiente em Movimento.

Texto e fotos por Bruna Medeiros